Eu gosto de música, gosto mesmo.
Quando eu era criança lá em casa era assim: meu pai gostava de rock e jovem guarda, minha mãe de sambas antigos e mpb, minha irmã conhecia todos os sucessos de todos os artistas das principais rádios da cidade. Quando tinha uma música que ela gostava muito, deixava o gravador de K7 em REC, PLAY e PAUSE, só esperando a hora que o locutor iria anunciar a música do momento, aí ela soltava o PAUSE um pouco antes e encontrar o timming pra cortar - e precisava porque as rádios começaram a dar fade in/fade out cruzando o final de um sucesso como começo de um jabaculê, sem falar quando o locutor anunciava o nome da estação do meio da música; então a gravação ficava meia boca, o locutor no começo, uma propaganda no final, mas bastava levar a fita pra um amigo dono de um poderoso stereo double deck e o cara limpava a gravação em uma segunda fita. Na década de 80 era assim e o pessoal já dizia que as fitas K7 e o VHS iriam acabar com a indústria do entretenimento. Mas não acabou.
Naquela época eu tinha herdado de meu falecido avô, uma caixa de vinil com os dizeres dourados em caixa-alta "a história da música clássica". Aquilo era o meu tesouro e eu o ouvia sem parar, era totalmente diferente do que eu estava habituado, era forte, volumoso, inesperado. Veja só que coisa curiosa, na caixa deviam ter uns 21 discos, parece pouco hoje, mas eu levei anos para ouvir todos os 21.
Pensando nisso lembrei de uma conversa com um amigo historiador, ele comentou que na alta idade média quando alguém se referia à sua biblioteca de casa falava em uns 20 volumes. Curioso como mudam as referências. Tá certo que eles sabiam estes livros
O CD só começou a se popularizar na virada da década de 90 e praticamente toda a minha coleção data daquela época: mpb, rock, metal, techno, uns clássicos mais arrojados e jazz, muito jazz. As lojinhas obscuras, importadores sinistros, os discos raros... Só tinha um probleminha, as mídias de cd (que diziam que durariam 100 anos) tinham uma durabilidade tão ruim quanto a fita k7. Enquanto as fitas cassete tendiam a se desmagnetizar com o tempo e os cds a descascar, tudo o que o vinil pedia era um espanador.
Toda mídia é um suporte material e toda matérica tende a sua decomposição. Mas o direito a ouvir uma determinada música foi adquirido quando o comprei, se tivesse comprado a mídia, não teria direito a reclamar quando a fita fosse inaudível.
- Sinto muito senhor, mas não posso trocar a sua mídia porque o que senhor comprou foi um rolo de fita magnética em um caixa de plástico e é exatamente um rolo de fita magnética em um caixa de plástico que você tem em mãos.
O que foi comercializado foi uma música, eu adquiri o direito de poder ouvi-la e tomar todas as ações de modo a preservar este direito, portanto se ela não durar em um cd, eu posso gravá-la em um fita, ou em outro cd, ou jogar em um gravador de vinil usb, ou deixar uma cópia de segurança em um arquivo digital.
Ah, o MP3: enquanto eu puder espetar uma HD nova em minha máquina, meus arquivos serão perpétuos. A primeira coisa que fiz foi gravar toda a minha coleção em 64Kbps, depois 96Kbps, 128Kbps, com VBR, em 256Kbps. Depois os discos de meus parentes, amigos, vizinhos... Até chegar um tal de napster e audio galaxy, fast track, torrents... Foram uns anos frenéticos e deve fazer uns 4 anos que praticamente não baixo mais nada. É hora de ouvir a coleção.
E aí, por melhor organizada que ela possa estar, começa a ficar chato encontrar uma música determinada. De vez em quando nem sei o que tenho, afinal são
$ find /mnt/arquivos/music/ -type f \( -iname '*[afmow][aglmpv4][acegiv34]' -print \) -o \( -iname '*[mf][pl][ea][gc]' -print \) | wc -l
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arquivos. Durante estes quase 15 anos de música digital, usei diversos gerenciadores de coleção. Todos que testei sofrem do mesmo problema, a coleção fica ordenada sob aquele software e uma vez que ele se tornar obsoleto, ou que o arquivo for aberto por outro programa, lá se foi a ordem. Então prefiro ordenar utilizando diretórios da seguinte forma:
[ESTILO]/[AUTOR]/[ÁLBUM]/[faixa]
Não quero procurar uma faixa quando sei seu nome, quero digitar "hendrix experience" ou "chico 78" e ouvir o disco procurado. Então fiz este pequeno script, modifique-o para seu sistema porque não fiz um configurador. Enfim,
se você souber o nome do arquivo, use a opção -f
$ playlist -f favorite things
$ playlist -f purple haze
$ playlist -f pelas tabelas
$ playlist -f purple haze
$ playlist -f pelas tabelas
se você quiser tocar todas as faixas sob diretório contendo o padrão "Miles" e "Coltrane", basta
$ playlist -a miles coltrane
$ playlist -a ult exp
$ playlist -a goldberg
$ playlist -a bwv 988
$ playlist -a ult exp
$ playlist -a goldberg
$ playlist -a bwv 988
Se você quiser tocar todas as faixas de áudio sob um certo diretório (recursivamente), basta
$ playlist -d diretório
$ playlist -d /mnt/torrents
$ playlist -d /mnt/torrents
Você pode ver e baixar o código aqui: http://pastebin.com/UNJc4wNa
[]s
/dev/movebo
Muito bom o script, professor.
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